sexta-feira, 5 de junho de 2009


CRIANÇA 44













Tom Rob Smith.
Editora Record
Rio de Janeiro – 2008
Josef Stalin: secretário geral do partido comunista da união Soviética e do Comitê Central a partir de 1922 até sua morte em 1953.

O desprezível bigodudo acima retratado bem que passaria por um bom homem. Tem um olhar austero é certo. Mas quem não tem um pai, tio, avô que seja que não surpreendeu a você em um momento de brincadeira com alguns amigos e paralisou-o com aquele olhar aterrador? A pergunta que se impõe é se podemos ou devemos emitir juízo de valor ao caráter, a personalidade daquele que em uma moldura se nos apresenta ao olhar inocente e não nos ameaça e, portanto, aparentemente, não nos pode fazer mal? Quero dizer, você teria uma reação repulsiva diante de uma fotografia tão cândida, inofensiva, paternal mesmo quanto à de Josef Stalin ao alto se desconhecesse sua biografia?
Número de vítimas
Em 1991, com o colapso da União soviética, os arquivos do governo soviético finalmente foram revelados. Os relatórios do governo continham os seguintes registros:
• Número de mortos
o Executados: 800 mil
o Fome e privações (gulags): 1,7 milhões
o Reassentamentos forçados: 389 mil
 Total: aproximadamente três milhões
Entretanto os debates continuam alguns historiadores acreditam que relatórios soviéticos não são confiáveis. E de maneira geral apresentam dados incompletos, visto que algumas categorias de vitimas carecem de registros – como as vitimas das deportações ou a população alemã transferida ao fim da Segunda Guerra.
Alguns historiadores acreditam que o número de vítimas da repressão estalinista não ultrapasse os quatro milhões; outros, porém, acreditam que esse número seja consideravelmente maior.

Suponho que não, contudo o megalomaníaco bigodudo gostava de morte por atacado. Para se ter uma idéia da barbárie Stalinista, estima-se que durante a Segunda Guerra Mundial o numero oficial de mortos está entre 50 e 60 milhões de pessoas. Seu regime contabilizou, acredita-se, cerca de 20 milhões.
O jovem corrompido e corrompedor Tom Rob Smith cônscio de que um bom material visual é a chave para o consumo impulsivo, elabora apelativamente bem a arte gráfica- também o conteúdo - nesse romance de estréia.Explora um exemplo patético do que dizíamos acima. Olhando sua fotografia, apensa a contracapa do livro Criança 44, já estimulados pela chamada visual,um extremado apelo, resignamos-nos aceitar fazer a leitura das suas 431 páginas. O conjunto emoldurado, a princípio, nos envolve, acolhe,e quando nos damos conta já estamos comprometidos com essa cortina enevoada de uma criança morta sob os trilhos da política de segurança de Stálin. Acreditamos, a princípio, que o maroto livro tenta ressaltar a brutalidade de um sistema apoiado na retórica de um bigodudo contaminado por poderes de super-herói através de uma correlação infância inocente versus Estado político repressor personificado em Stálin. É pau, nojento, doentio, ainda que não estejamos considerando o lado politico-social da coisa, ou seja, Stalin é fruto de uma revolução proletária... Que o “paz e amor” não nos leia! Nenhuma experiência temos nesse campo. Nenhuma! Claro, nosso passado – nem mesmo Canudos – não é revolucionário como muitos agradecem à Deus, é golpista aventureiro numa eterna perpetuação burguesa. Outros tantos agradecem à Deus!... E as eleições democráticas de 2000? Enfim, um trabalhador sindicalizado e aclamado pelo povo, assim como Stálin, subiu a rampa do Planalto; todos ficamos felizes, tanto que o reelegemos... Você deve estar se torturando e perguntando: o que tudo isso de “paz e amor” tem haver com o romance? Claro, é verdade; voltemos ao Stalin, voltemos a Tom Rob Smith o pervertido que teve os direitos de adaptação para o cinema comprados pelo cineasta Ridley Scott que produziu, entre outras pérolas do cinema, o Gladiador: aquele trabalhador que é usado pelo império como lutador de arena. E o povo vai ao delírio, é mole?... Ainda bem que o pervertido do Tom é magro e é burguês e é Inglês de olhos verdes – não azuis - daquela mesma Inglaterra da Revolução Industrial, da...
Não nos iludamos. Assim como a foto de Stálin não nos revela o seu lado humano apocalíptico, assim criança 44 só apresentará sua qualidade inferior de escola pública quando você desembolsar reais em busca de cultura e divertimento e perceber que o conteúdo é piegas e sem coesão contextual: Liev é metamorfoseado conforme a circunstância de conveniência do narrador. Leia-se a perseguição a Bródski. Apresenta-se como profissional experiente de guerra, decidido, maduro. Agora leia-o perseguido e lidando com a esposa e verá um menino assustado que depois de anos trabalhando para o Estado descobre que tudo é mentira e sente-se mal por isso como se a culpa fosse dele. A narrativa é lenta em função do jogo ambíguo de formulações morais que rege todo o aspecto ficcional; leia-se esse diálogo:
- Não denunciei você não por acreditar que estivesse grávida (Raíssa), nem por eu ser bom. Foi porque a família é a única coisa na minha vida da qual não me envergonho.
-Porque essa revelação da noite para o dia? Parece sem valor. Depois de perder o uniforme, o escritório, o poder, você agora tem que acertar as coisas comigo (Raíssa). Será que é isso? Uma coisa que nunca teve importância para você, a nossa vida, ficou importante porque foi só o que sobrou?
E olhem a besteira dita por Raíssa:
-Casei com você com medo de ser presa por rejeitá-lo. Talvez não fosse presa imediatamente, mas uma hora seria, por algum pretexto. Eu era jovem, Liev, e você poderoso. Foi por isso que nos casamos... Você nunca me bateu, nem gritou comigo, nunca se embriagou. – no Brasil esse cara seria disputado aos empurrões- Então, pensando bem, eu achava que tinha mais sorte que a maioria das mulheres.
A utilização do pretérito por Raíssa salienta uma decisão passada mas que agora não se justifica já que o babaca do Liev ficou desempregado... e ainda vem falar que ele nunca levou a vida do casal a sério? Matem essa mulher!, não, melhor, não inicie a leitura desse livro.
João Ricardo Miranda

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