sábado, 13 de fevereiro de 2010

Rumo de festa de confete da cultura brasileira

Estamos todos comprometidos com a cultura. Esse é um dado que não pode passar despercebido de qualquer discurso sério que tente compreender a dinâmica da produção humana, mesmo considerando aqueles tipos “alienados” e “alienantes” supostamente à margem da sociedade. Contudo, isso não significa que “todos” estão empenhados em discutir, questionar, promover cultura. Aqueles que compreendem a sua importância, que é salvaguarda do próprio homem na manutenção da vida, esses sim, têm por obrigação manifestarem-se conclusivamente.
Apoiado nessa sentença, permito-me fazer algumas colocações que sirvam de base para, pelo menos, compreendermos o nosso presente cultural, posto que o rumo futuro se delineia no exato momento em que escrevo. Aliás, devo desde já manifestar que estamos vivendo um processo de “demolição e de construção” de estruturas culturais, e acredito até que esse é o momento no qual transpomos a via não asfaltada, estropiada, sem rumo, e grande e velha contradição brasileira, sem porrada.
Não recordo o autor da frase: “toda cultura precisa de esperança, mesmo que vã”. Essa é daquelas verdades que ditas num instante de nobreza tocam nosso sentimento romântico de esperança, utópica talvez, mas que sem ela nossa vida fica vazia de sentido. Esperança num país no qual nossa gente sinta-se saciada da fome e da sede, sinta-se resgatada da pilhagem da produção criada tão duramente pelas mãos calejadas das senzalas, ou da quase extinção dos índios.
Pensar a cultura no Brasil de hoje é pensar na globalização. Vivemos ditaduras com seus atos Institucionais, exílios, mortes, destruição. Hoje acenamos ao mundo nosso lado capitalista e não mais somos vistos como mendigos latinos americanos da música de Belgior. Esse é o legado democrático pós revolução 64, em troca, nos engajamos no “Pop” áudio-visual de baixa qualidade e que reduz o conhecimento a papel picado, como os antigos confetes coloridos das belas noites de fevereiro de carnaval.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Inesquecível

Um filme de Paulo Sérgio Almeida- cineasta com vasta experiência no mercado de direção, produção e distribuição.
Dirigiu os longas: Xuxa e os duendes, sonho de verão, beijo na boca
paulosergioalmeida
Atores:
Murilo Benício no papel de Diego Borges
Caco Ciocler no papel de Guilherme Quiroga
Apresentando Guilhermina Guinle como Laura
Participação especial: Fernanda machado,
                                               Nildo parente.
Roteiro: Marcos Bernstein. Roteirista da nova geração, escreveu com João Emanuel Carneiro Central do Brasil (1998), de Walter Salles, ganhador do prêmio Sundance/NHK .
*
O filme foi inspirado na obra de Horácio Quiroga, escritor Uruguaio falecido em 1937.
Quiroga teve uma vida marcada por várias tragédias:  Seu pai suicida-se e logo a seguir seu padrasto. Aos 24 anos Quiroga mata acidentalmente um amigo com uma arma de fogo, antes disso teve dois irmãos falecidos.
Desesperado tenta o suicídio.
Casa-se aos 29 anos e leva a esposa, que tinha uma filha, para morar na selva trabalhando em plantações.
Desgostosa suicida-se.
Retorna a Montevidéu gozando do prestígio político do presidente, seu amigo, Baltazar Brum,  que logo depois é destituído do cargo e suicida-se.
Casa-se de novo e volta a morar na selva. A esposa abandona-o, é quando descobre que tem um câncer no estômago irreversível e que lhe causa profundas dores.
Suicida-se com cianureto.
Após sua morte suas filhas suicidam-se.

Adaptado da obra de Horácio Quiroga “ O espectro”, o filme tem sido  alvo de polêmica. Há aqueles que dizem ser embalagem dez e conteúdo zero. No outro extremo, o argumento de que sendo obra latino-americana deve ser entendida como ficção, sem o devido engajamento político do diretor. Vê-se que vale à pena assistir ao filme para depurá-lo e enriquecer o debate sobre a nova roupagem do cinema brasileiro.
Não pretendo defender qualquer dos lados em contenda, porém estou mais inclinado a aceitar o filme como uma estrumeira de uma paranóia que não se decide pela poesia ou pelo ordinário. A sensação que se tem é de que  a cena seguinte trairá a anterior, e se soltará dessa tênue linha que a põe na estrada da lucidez: Laura não aparece nua, mas a freqüência com que a vemos na cama nos dá a impressão de que o seu papel é maior que o roteiro determina.
Diego é um verdadeiro camaleão, parece-nos que a cada nova cena se transformará num louco estereotipado dos piores filmes de assassinato. E se acham uma inovação o desdobramento final no qual o sorriso de deboche ecoa na sala de cinema, pareceu-me uma chanchada da Atlântida   de Luiz Severiano ribeiro – lucro.
Guilherme Quiroga é o pior dos piores vilões. É aquele sujeito com cara de santo, fala de santo, mas que não se deixe  só com uma santa… e ainda fica com raiva quando o amigo o encosta na parede e diz que ele não teve sucesso na vida; “não sou como você”, é o que ele diz, contudo o outro é todo sucesso.
Enfim, prefiro esquecer essa produção do cinema nacional, mas quero continuar indo à sala de projeção sabendo que coisas boas estão acontecendo. Inesquecível foi uma gripe que tratada com vitamina “C” e lenço tem endereço certo…