domingo, 28 de junho de 2009

"A melhor religião é aquela que te faz melhor"



Há um passado de fervor cristão na minha formação. Atuando em projetos ligados à CEB, acreditava estar renovado como homem, transformado. Em uma palavra: espiritualizado. Afinal, conceder meu domingo aos mais necessitados com profundo ardor missionário, em fraterna comunhão, testemunhando Jesus Cristo em sintonia com as "Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil", era a luz que precisava para ter minha consciência não apenas em paz, mas crítica àqueles que não se dispusessem à transformação social. Confesso também que o fazia alimentado pelo documento: "III conferência geral do episcopado latino-americano - A Evangelização no presente e no Futuro da América latina" -, época em que tomei conhecimento da existência de Leonardo Boff e de quem logo de início defendi sua causa.
Um pouco de sua biografia:
Seus questionamentos a respeito da hierarquia da Igreja, expressos no livro Igreja, Carisma e Poder, renderam-lhe um processo junto à Congregação para a Doutrina da Fé, então sob a direção de Joseph Ratzinger, hoje Papa Bento XVI. Em 1985, foi condenado a um ano de "silêncio obsequioso", perdendo sua cátedra e suas funções editoriais no interior da Igreja Católica. Em 1986, recuperou algumas funções, mas sempre sob severa vigilância. Em 1992, ante nova ameaça de punição, desligou-se da Ordem Franciscana e pediu dispensa do sacerdócio. Sem que esta dispensa lhe fosse concedida, uniu-se, então, à educadora popular e militante dos direitos humanos Márcia Monteiro da Silva Miranda, divorciada e mãe de seis filhos. Boff afirma que nunca deixou a Igreja: "Continuei e continuo dentro da Igreja e fazendo teologia como antes", mas deixou de exercer a função de padre dentro da Igreja. Suas críticas à estrutura hierárquica da Igreja Católica e seus vínculos com a teologia da libertação fazem com que setores católicos considerem-no apóstata.

Já não mais engajado nos movimentos da Igreja, vejo com certa angústia um crescente comércio em torno de "Deus". È Deus para cá, Deus para lá, templos sendo erguidos em nome de um Deus que curará doenças e restituirá o emprego perdido. Essas pessoas acreditam que assim agindo, individualmente, serão salvas, não se importando com a transformação cristã do "dando é que se recebe", da alegria da união fraterna, "irmão Sol", "irmã Lua", "irmã natureza", de São Francisco de Assis, vivendo no egoísmo de garantir um espaço nos céus.
Pois bem, "Espiritualidade", de Leonardo Boff - um caminho de transformação - é um opúsculo de 100 páginas que trata do assunto com toda a simplicidade e consciência de um homem amadurecido, afastado do Vaticano, que continua a pregar a "palavra" de salvação como transformadora. Leonardo exulta o Dalai-Lama como um grande messias da modernidade e sintetiza os caminhos percorridos pelas religiões do ocidental e do oriente:

"Existe o caminho da comunhão pessoal com Deus que inclui o todo.

" Existe o cominho da comunhão com o todo que inclui Deus "

" O primeiro é o percurso ocidental. O Segundo, o Oriental... "
Sempre acreditei que a melhor Religião é aquela que nos faz melhor,... Precisei ouvir esta frase do Dalai-Lama para me assumir transformado.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Escola: Caso de Polícia?

Quanta saudade da Escola pública de outrora...!
Recanto de divertimento e aprendizagem, de socialização... O mundo era além dos livros, era produto de nossa imaginação, infinito, absoluto, nossa matéria-prima; tudo podíamos e queríamos... Éramos construção, produto emancipável, e isso nos motivava a "exigir", a querer, uma escola valorativa dos princípios democráticos institucionais tão dolorosamente conquistados.
Matéria publicada na página POLICIAL de "A GAZETA" de 05 de junho de 2009: "Ação de bandidos deixa duas escolas sem aulas".
Matéria publicada na primeira página de "A Notícia Agora": "Traficantes dão ordens e fecham escolas: Em vitória, escola no Morro da Fonte recebeu ordem para não abrir"...
A QUEM INTERESSA O FECHAMENTO DAS ESCOLAS PÚBLICAS?
Título da manchete do periódico Notícia Agora: "È melhor errar e garantir vidas". "Diretora da escola do Morro da Fonte Grande, Yvone Moraes, preferiu não desobedecer à ordem". Desobedecer à ordens; (de quem? quem manda?) eis o grande vilão dessa história dolorosa. O sentimento de impunidade, de incerteza, de fragilidade diante de um poder que nos ameaça todos os dias vai destruindo aceleradamente toda possibilidade de cidadania. E o que acontece quando a sociedade é obrigada a conviver com regras frouxas de comportamento?
Contactada pela imprensa, a Prefeitura de Vitória emitiu nota oficial: "Em momento algum a Prefeitura foi comunicada sobre o fato". Isto é, no mínimo, escandaloso; desrespeitoso para com a população que exige respostas claras. Não consigo conceber o poder público com uma fala tão infantil... Assim prefiro, a dizer outra coisa...
A manchete vai mais além: "A decisão de fechar as portas da escola coube exclusivamente à diretora da unidade de ensino". Nota-se nessa fala da assessoria de imprensa da Prefeitura de Vitória um desejo imperioso de manter-se à margem de todo processo, ou seja, o uso político da instituição com o sentido claro do não comprometimento junto à população votante. Pior, querem usar a Diretora que teve uma postura sábia na defesa do patrimônio público, bem como na segurança de todos àqueles que, direta ou indiretamente, estão presentes à unidade de ensino, como única responsável pela ausência do Estado quando manifesta uma decisão fundamentada puramente na razão.
Insisto na pergunta: A QUEM INTERESSA O FECHAMENTO DA UNIDADE ESCOLAR?
O tráfico, como todos sabem, inclusive a PM, quer dominar o morro e estabelecer um Estado paralelo. A Escola, base e sustentação de uma possibilidade, é barrada institucionalmente na medida exata desse fino véu do legal e institucional e do ilegal.
Qualquer pessoa de bom senso teria agido da mesma forma que a diretora. Apesar do seu acerto, a estrutura institucional pedagógica é bem provável que a condene. E mais uma vez veremos a Escola em alto relevo na sessão de segurança dos periódicos capixabas que dedicam meia página para um assunto de tão grande importância, ao passo que dedicam páginas várias para o futebol.
Engraçado (?) que a secretaria de cultura questiona a ausência de público no teatro Carlos Gomes.
HIPOCRISIA, EIS A MORAL FINAL DE TODA ESTA HISTÓRIA.


CRIANÇA 44













Tom Rob Smith.
Editora Record
Rio de Janeiro – 2008
Josef Stalin: secretário geral do partido comunista da união Soviética e do Comitê Central a partir de 1922 até sua morte em 1953.

O desprezível bigodudo acima retratado bem que passaria por um bom homem. Tem um olhar austero é certo. Mas quem não tem um pai, tio, avô que seja que não surpreendeu a você em um momento de brincadeira com alguns amigos e paralisou-o com aquele olhar aterrador? A pergunta que se impõe é se podemos ou devemos emitir juízo de valor ao caráter, a personalidade daquele que em uma moldura se nos apresenta ao olhar inocente e não nos ameaça e, portanto, aparentemente, não nos pode fazer mal? Quero dizer, você teria uma reação repulsiva diante de uma fotografia tão cândida, inofensiva, paternal mesmo quanto à de Josef Stalin ao alto se desconhecesse sua biografia?
Número de vítimas
Em 1991, com o colapso da União soviética, os arquivos do governo soviético finalmente foram revelados. Os relatórios do governo continham os seguintes registros:
• Número de mortos
o Executados: 800 mil
o Fome e privações (gulags): 1,7 milhões
o Reassentamentos forçados: 389 mil
 Total: aproximadamente três milhões
Entretanto os debates continuam alguns historiadores acreditam que relatórios soviéticos não são confiáveis. E de maneira geral apresentam dados incompletos, visto que algumas categorias de vitimas carecem de registros – como as vitimas das deportações ou a população alemã transferida ao fim da Segunda Guerra.
Alguns historiadores acreditam que o número de vítimas da repressão estalinista não ultrapasse os quatro milhões; outros, porém, acreditam que esse número seja consideravelmente maior.

Suponho que não, contudo o megalomaníaco bigodudo gostava de morte por atacado. Para se ter uma idéia da barbárie Stalinista, estima-se que durante a Segunda Guerra Mundial o numero oficial de mortos está entre 50 e 60 milhões de pessoas. Seu regime contabilizou, acredita-se, cerca de 20 milhões.
O jovem corrompido e corrompedor Tom Rob Smith cônscio de que um bom material visual é a chave para o consumo impulsivo, elabora apelativamente bem a arte gráfica- também o conteúdo - nesse romance de estréia.Explora um exemplo patético do que dizíamos acima. Olhando sua fotografia, apensa a contracapa do livro Criança 44, já estimulados pela chamada visual,um extremado apelo, resignamos-nos aceitar fazer a leitura das suas 431 páginas. O conjunto emoldurado, a princípio, nos envolve, acolhe,e quando nos damos conta já estamos comprometidos com essa cortina enevoada de uma criança morta sob os trilhos da política de segurança de Stálin. Acreditamos, a princípio, que o maroto livro tenta ressaltar a brutalidade de um sistema apoiado na retórica de um bigodudo contaminado por poderes de super-herói através de uma correlação infância inocente versus Estado político repressor personificado em Stálin. É pau, nojento, doentio, ainda que não estejamos considerando o lado politico-social da coisa, ou seja, Stalin é fruto de uma revolução proletária... Que o “paz e amor” não nos leia! Nenhuma experiência temos nesse campo. Nenhuma! Claro, nosso passado – nem mesmo Canudos – não é revolucionário como muitos agradecem à Deus, é golpista aventureiro numa eterna perpetuação burguesa. Outros tantos agradecem à Deus!... E as eleições democráticas de 2000? Enfim, um trabalhador sindicalizado e aclamado pelo povo, assim como Stálin, subiu a rampa do Planalto; todos ficamos felizes, tanto que o reelegemos... Você deve estar se torturando e perguntando: o que tudo isso de “paz e amor” tem haver com o romance? Claro, é verdade; voltemos ao Stalin, voltemos a Tom Rob Smith o pervertido que teve os direitos de adaptação para o cinema comprados pelo cineasta Ridley Scott que produziu, entre outras pérolas do cinema, o Gladiador: aquele trabalhador que é usado pelo império como lutador de arena. E o povo vai ao delírio, é mole?... Ainda bem que o pervertido do Tom é magro e é burguês e é Inglês de olhos verdes – não azuis - daquela mesma Inglaterra da Revolução Industrial, da...
Não nos iludamos. Assim como a foto de Stálin não nos revela o seu lado humano apocalíptico, assim criança 44 só apresentará sua qualidade inferior de escola pública quando você desembolsar reais em busca de cultura e divertimento e perceber que o conteúdo é piegas e sem coesão contextual: Liev é metamorfoseado conforme a circunstância de conveniência do narrador. Leia-se a perseguição a Bródski. Apresenta-se como profissional experiente de guerra, decidido, maduro. Agora leia-o perseguido e lidando com a esposa e verá um menino assustado que depois de anos trabalhando para o Estado descobre que tudo é mentira e sente-se mal por isso como se a culpa fosse dele. A narrativa é lenta em função do jogo ambíguo de formulações morais que rege todo o aspecto ficcional; leia-se esse diálogo:
- Não denunciei você não por acreditar que estivesse grávida (Raíssa), nem por eu ser bom. Foi porque a família é a única coisa na minha vida da qual não me envergonho.
-Porque essa revelação da noite para o dia? Parece sem valor. Depois de perder o uniforme, o escritório, o poder, você agora tem que acertar as coisas comigo (Raíssa). Será que é isso? Uma coisa que nunca teve importância para você, a nossa vida, ficou importante porque foi só o que sobrou?
E olhem a besteira dita por Raíssa:
-Casei com você com medo de ser presa por rejeitá-lo. Talvez não fosse presa imediatamente, mas uma hora seria, por algum pretexto. Eu era jovem, Liev, e você poderoso. Foi por isso que nos casamos... Você nunca me bateu, nem gritou comigo, nunca se embriagou. – no Brasil esse cara seria disputado aos empurrões- Então, pensando bem, eu achava que tinha mais sorte que a maioria das mulheres.
A utilização do pretérito por Raíssa salienta uma decisão passada mas que agora não se justifica já que o babaca do Liev ficou desempregado... e ainda vem falar que ele nunca levou a vida do casal a sério? Matem essa mulher!, não, melhor, não inicie a leitura desse livro.
João Ricardo Miranda